O interior do Mercado Público Central de Porto Alegre

Hoje é aniversário de 243 anos Porto Alegre e para homenageá-la, eu decidi escrever sobre o Mercado Público Central, que considero uma das maiores identidades da cidade, com suas belezas e mazelas.

Pela manhã eu publiquei um breve histórico e fotos da fachada exterior do nosso Mercado Público - link aqui - e agora à tarde estou mostrando como é a parte interna.

Entrada principal interna (logo após aquela do relógio Masson que não funciona).

Um Sobrevivente

Sim, o nosso Mercado Público é um verdadeiro sobrevivente. Passou por várias alterações arquitetônicas, sobreviveu a uma grande enchente em 1941, a quatro incêndios (1912, 1976, 1979 e 2013) e ainda foi ameaçado, na administração de Telmo Thompson Flores, de ser demolido para construção de uma avenida.

Esta placa indica até onde subiram as águas durante a enchente de 1941.

Zoom da placa

A Banca do Holandês também é uma das mais tradicionais

Na área central do Mercado Público tem um pianista tocando músicas clássicas, que acalmam a ansiedade dos que por ali passam, sempre muito apressados. Quem tem um tempinho, pára e fica apreciando. Não sei se o pianista se encontra em todos os horários, ou se existe mais de um, porém, nas últimas vezes em que fui ao Mercado, na parte da tarde, ele estava lá tocando.

O mesmo pianista visto do ângulo de quem está saindo do Mercado

A tradicional Banca 43 é especializada em especiarias nacionais e importadas, principalmente o bacalhau norueguês. Semana Santa se aproximando e nesta banca você pode encontrar bacalhau de várias procedências, desfiados, em postas ou pedaços grandes.

É muito bacalhau!

A Banca 26 também têm um bom estoque de bacalhau, assim como azeites e outros temperos do mundo todo.

Já estou até sonhando com o delicioso bacalhau que o meu cunhado Ricardo prepara toda a Sexta-feira Santa. É tradição na nossa família há muitos anos!

Este deve ser o paraíso e sonho de consumo e de toda a doceira!

A Banca 40 é uma sorveteria com cerca de 88 anos e que ficou muito conhecida pela sua famosa Bomba Royal e hoje oferece em torno de 20 sabores. Para saber o que é a Bomba Royal, você precisa ir até lá e provar!

Esta banca vive lotada, seja para saborear a Bomba Royal, uma Banana Split, Acaí, ou mesmo um simples sorvetinho e bater papo com os amigos.

Podemos encontrar também várias bancas que vendem artigos religiosos, principalmente de Umbanda e isso se justifica porque o RS é o Estado do Brasil que mais tem adeptos à religiões afro, seguido pelo Rio de Janeiro e, em terceiro lugar, pela Bahia. Você sabia disso? Aposto que pensava que a Bahia estava em primeiro lugar, não é?

*De acordo com o último censo do IBGE, o Rio Grande do Sul é o estado com mais adeptos declarados das religiões de matriz africana como Candomblé, Umbanda e Quimbanda. São quase 1,5% da população, mais do que o segundo e o terceiro colocados somados (Rio de Janeiro, 0,9%, e Bahia, 0,3%).

** No RS o forte são a Umbanda, a Quimbanda e A Nação. O Candomblé é mais raro por aqui.

Logo na após a entrada principal, tem também uma pequena banca de revistas que vende material sobre a Umbanda e os Orixás.

E abaixo, segue a foto e uma informação que eu imagino que pouca gente deve saber, mesmo quem mora ou é de Porto Alegre.

Assentamento do Bará do Mercado Público de Porto Alegre, feito pelo Príncipe Custódio.

O Mercado Público é uma referência essencial para o universo afro-religioso de Porto Alegre e RS, pois é o primeiro lugar onde os filhos de santo realizam o seu “passeio”, quando levantam do chão e estão prontos para exercer seus ofícios religiosos. 

Construído por negros escravos, o Mercado Público carrega grande força mística, atribuída ao axé do Bará (Exu) mais antigo da cidade. Mito ou verdade, esta é uma história muito rica e se você quiser saber mais a respeito, leia um artigo publicado no Jornal do mercado, link aqui.

Agora vamos para a parte superior, ou seja, o 2º piso, que foi parcialmente destruído no último incêndio, em 6 de julho de 2013. 

A escada rolante não está funcionando e a mesma é utilizada pelos frequentadores, tanto para subir quanto para descer.

Esta parte do 2º piso não foi atingida pelo incêndio e pode-se ver um pouco da beleza interna do prédio.

Achei bem interessante a "vista área" do 2º andar do Mercado Público.

Na foto baixo, o "miolo" do Mercado. Podemos ver o pianista, a moldura alusiva à Semana de Porto Alegre e onde eu fiz a primeira foto que ilustra este post. No chão, à direita desta moldura, se encontra o Bará do Mercado.

Bem ao fundo, os enormes plásticos pretos que aparecem, estão ocultando a parte que foi incendiada em 2013 e ainda está para ser recuperada.

Um close nos plásticos pretos

Faz quase dois anos que ocorreu o incêndio e estas tais obras de recuperação parecem que não estão em real andamento. Pode ser que na parte burocrática algo esteja sendo discutido e/ou planejado, mas na prática, só estes horríveis sacos pretos a decorar a parte superior interna do Mercado.

Dos muitos restaurantes que o Mercado tinha, só os localizados nas laterais inferiores estão em pleno funcionamento, pois os que ficavam na parte superior, que foi destruída pelo fogo, por motivos óbvios, ainda não retomaram suas atividades.

O próximo post sobre o Mercado será feito assim que ele estiver sido totalmente recuperado do incêndio. Só não sei quando vai ser!

O Mercado Público de Porto Alegre, como a maioria dos mercados, faz parte das tradições da cidade e suas lojas vendem praticamente de tudo, são mais de 100 mil itens em especiarias, erva-mate, utensílios gaúchos, artigos para cultos religiosos, bacalhau, peixes em geral, carnes, vinhos  e muitos outros produtos nacionais e importados.

As obras (paradas) de recuperação do incêndio é apenas uma das desculpas pelo péssimo estado do Mercado. No TripAdvisor, site em que são avaliados os pontos e serviços turísticos do mundo todo, as reclamações mais frequentes dos turistas que visitam a cidade é sobre a sujeira, o mau cheiro e o descuido do prédio.

Nosso Mercado Público Central é um belíssimo prédio, que retrata a nossa história e o nosso povo, mas que está gritando por socorro!

Você que é de Porto Alegre, costuma frequentar o Mercado? O que acha, que estou exagerando e sendo muito crítica ou que estou certa?

E para você que é de fora, já visitou o nosso Mercado Público? O que achou?

Beijos,
Ana